SAIBA POR QUE OS PAULISTAS NAUFRAGAM NO BRASILEIRÃO
8/8/2011
Por: Tom Capri
Já está mais do que claro, é preciso ser muito desatento e irremediavelmente viciado nos clichês para não enxergar. Os clubes paulistas estão em declínio, no Brasileirão, porque não conseguem se libertar do futebol-escadinha que tantos estragos tem feito aos nossos clubes e, principalmente, à Seleção. A cegueira não é só dos clubes (jogadores, técnicos e dirigentes), mas em especial de nossa mídia esportiva. O futebol moderno exige que todos, inclusive os atacantes, componham e voltem para morder em bloco, ajudando sempre no desarme e também na armação, exatamente como faz o incansável uruguaio Suarez, o grande jogador da Copa América. Hoje, o time precisa defender em bloco, armar em bloco e atacar em bloco, como fazia a Laranja Mecânica holandesa, e haja fôlego. Principalmente o centroavante não pode parar de correr atrás da bola, como faz, imagine você, Bill no Coxa. Assim jogam Flamengo (de Luxa e Gaúcho), Vasco (de Gomes e Diego Souza) e Coritiba (de Bill), por exemplo, nossos times mais modernos. Bem ao contrário dos paulistas, como você vai ver a seguir.
Vamos primeiro ao Santos
Muricy conseguiu a façanha de ganhar finalmente uma Libertadores com Zé Love como primeiro atacante, mas até hoje não sacou que o jogador era a grande arma do Santos. Insatisfeito com Zé Love e precisando fazer caixa, o clube despachou-o e chamou Borges, amado por Muraca. E o Santos voltou a jogar daquela forma burra do São Paulo dos tempos de Muricy e da Seleção de Mano que vimos recentemente na Copa América.
Numa era em que o ataque é a maior arma do sistema defensivo, pois é o que dá o primeiro combate, sufocando o adversário, Borges não arma nada, não ajuda o suficiente no desarme e também não é de fazer muitos gols. Resultado: o Santos voltou a jogar com “menos um” para defender e armar, como o velho São Paulo de Muraca. Só decepciona e dificilmente conseguirá alguma coisa neste Brasileirão se não mudar essa forma de jogar. Mesmo com dois dos melhores jogadores do mundo no momento, Neymar e Ganso, e com esse timaço que aí está, não vejo boas perspectivas para o Santos. Como pode tanta cegueira do clube e do técnico?
Pior foi o que vi ontem e hoje na mídia. Ninguém parecia entender o declínio dos clubes paulistas. Antero Greco, do Estadão e da ESPN, revelou ontem no ar, após a derrota do Santos (Vasco), desconhecer as razões da queda de produção do Santos. Para o comentarista, trata-se de mera má fase, que vai passar.
Giuliander Carpes, do Estadão, diz em sua análise de hoje sobre a derrota do Santos: “O problema é que tudo que Muricy tem de bom treinador, ainda não tem de mágico. O técnico ainda não pôde contar com Adriano, o volante marcador que a torcida passou a ver como solução para o time.” Solução para o time??? Giuliander, pode botar duzentos volantes como Adriano no time, não vai adiantar. Enquanto o Santos jogar nesse sistema burro-escadinha que nem você enxerga, vai ser só decepção, com uma vitória aqui, outra ali, nada mais.
Já na quarta-feira, em sua matéria de apresentação do jogo do Santos com o Vasco, Sanchez Filho, do Estadão, nos agraciava com essa pérola: “Mesmo com a queda de produção de Ganso, do meio para frente, o Santos está melhor do que o que conquistou o bi paulista e a Libertadores. Neymar superou a decepção da desclassificação na Copa América e já joga outra vez como nos melhores tempos. Mas, o bloco defensivo voltou a ter os defeitos de outros tempos”.
O que é isso??? Quanta imprecisão em um único parágrafo! Ganso não caiu de produção, o time é que deixou de funcionar justamente porque voltou a adotar aquele futebol rançoso-escadinha de Muricy. E nem de longe o Santos de hoje está melhor do que o que ganhou o bi do Paulistão e a Libertadores. Neymar continua o mesmo, o Santos é que mudou e se perdeu, agora com Borges. Nem com cinco Pelés ganharia com essa formação burra de Muricy.
Além disso, o bloco defensivo também não voltou a ter os defeitos de outros tempos. É que, hoje, não se joga mais com um bloco defensivo, porque todos precisam defender, formando um único bloco defensivo, em que Borges teria de ter papel de destaque. Como não tem e o Santos joga com um único bloco defensivo, só com alguns jogadores, O TIME INTEIRO VOLTOU A TER OS DEFEITOS DE OUTROS TEMPOS E AGORA DECEPCIONA.
Na mesma matéria, Borges aparece dizendo que as últimas derrotas do Santos “são nuvens passageiras, normais no Brasileirão”. E que o Santos melhorou e que, “mesmo com os resultados negativos, essas nuvens (negativas) vão passar”. Não vão, Borges, pelo menos enquanto o Santos não mudar essa forma atual de jogar.
Vamos agora ao Timão
Por que o Corinthians está em queda vertiginosa, apesar de ter batido ontem o América-MG? Porque Tite é outro que não entendeu ainda o futebol moderno. Soube armar um time moderno, com Liedson jogando como o uruguaio Suarez, incansável na ajuda à defesa e na armação, e ainda por cima finalizando com muita habilidade e precisão. Mas o time perdeu o jogador, machucado, e teve de substituí-lo. Se tivesse um pingo de certeza a respeito dos principais fundamentos do futebol moderno, Tite não teria substituído Liedson por Emerson.
Emerson não é forte na marcação nem na armação, e também não é goleador. Embora técnico, não tem aquela sede de roubar a bola de Liedson. Quer resolver o problema do time, antes que afunde de vez? Então chame correndo Liedson de volta. Ou avance Jorge Henrique, para jogar como esse centroavante moderno, e comece o jogo com Alex. Ou invente outra. A saída de Liedson desmontou aquele mágico time do Corinthians. E dizer que muitos aguardam ansiosamente pela recuperação de Adriano Imperador, achando que ele será a salvação do time.
Agora, o Palmeiras
O Palmeiras joga um futebol moderno, nas mãos de Felipão. Mas o técnico ainda não entendeu isso direito. Luan e Kléber são atacantes modernos e o time conta também com outros bons jogadores (e modernos), como Marcos Assunção e Valdivia. Mas você não vê, neles, aquele empenho que encontra, por exemplo, no Vasco, no Flamengo, no Coritiba.
Os atacantes, em vez de fazerem aquela parede lá na frente, para sufocar o adversário já na saída de bola, e voltarem sempre para ajudar no desarme e na armação, exercem esse papel mas comedidamente, sem aquela necessária força e impulsão. Você não vê um Valdívia ou um Kléber indo o tempo todo para cima da defesa adversária com aquela sede de morder e roubar a bola. A culpa é do técnico e da preparação física, que não fazem o ataque palmeirense jogar assim. O resultado é que o Palmeiras não deslancha e toma sufoco do Coritiba.
Por fim, o São Paulo
Por incrível que pareça, o grande problema do São Paulo, no momento, é Lucas e também esse ataque obsoleto que não é bom em nada. Lucas é grande promessa, mas não marca ninguém nem ajuda muito na armação. Um a dois anos num grande clube da Europa fariam muito bem ao jogador. Lá, ele aprenderia a marcar com eficiência e a armar com rapidez.
No momento, Lucas depende apenas daqueles arranques mágicos que muitas vezes terminam em gol. Mas ele não compõe e é sempre “menos um” na hora em que o time está sem a bola e precisa retomá-la. Com “menos um” assim na defesa e no meio-campo, e um ataque que também não tem muito fôlego nem é lá essas coisas na destruição e na armação (Rivaldo em fim de carreira, além de Dagoberto, Fernandinho e Lucas sem aqueeeela vontade de roubar a bola), o São Paulo é outro que padece.
Se Adílson não fizer, rapidinho, com que esses quatro atacantes sufoquem o adversário na marcação, correndo o tempo todo, o time não vai muito longe. O São Paulo é outro que precisa urgentemente mudar sua forma de jogar, abandonando o sistema-escadinha, que não funciona nem mesmo com jogadores modernos, até porque, no Tricolor, eles não têm o necessário fôlego para tanto.
Concluo com as sábias palavras do grande comentarista Paulo Stein, Fluminense da gema: “Não temos mais estrategistas como Zezé Moreira ou Elba de Pádua Lima, o Tim, que mudava com eficiência o jeito de o time jogar durante uma partida. Não era essa história de treineiro repetir o time que está mal e mudar no meio-tempo para melhorar e enganar que sabe mexer”.